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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Reflexões na sombra da jaqueira

Depois de jogar tênis sob um mormaço quase sufocante, descemos para o bar à beira do lago. O calor pedia uma cerveja gelada, antes do almoço.
Vimos uma mesa sob uma sombra bem convidativa, e dirigimo-nos para lá.
Ao chegarmos, notei que a sombra era de uma jaqueira, e bem carregada. Nossa sorte é que os frutos ainda estavam pequenos. Preciso me lembrar de não ocupar essa mesa daqui a algumas semanas, por motivos óbvios...
Estávamos lá, curtindo a tranquilidade da paisagem, quando uma conversa na mesa ao lado me chamou a atenção.
Tá bom! Prestar atenção na conversa dos outros é coisa de fofoqueiro, mas dessa vez não deu para evitar.
Eu voltei do banheiro, sentei, e minha esposa retomou normalmente o assunto que conversávamos antes. Só que ela me fez um sinal: franziu a testa, e olhou de rabo de olho para a mesa ao lado. Entendi o recado, e continuamos nosso papo.
Eram dois casais conversando, e uma das moças disse mais ou menos o seguinte:
- Eu andava meio desanimada, e o fulano me deu uns comprimidos para tomar. Ele disse que eu teria mais ânimo para fazer academia. Na primeira vez, não fez efeito na hora. Continuei na mesma... Voltei para casa, tomei banho e fui para a cama. Aí sim o troço fez efeito! Não consegui dormir. Passei a noite inteira em claro! Já imaginou como foi o dia seguinte...
E um dos rapazes perguntou:
- Mas e aí? Continuou tomando?
- Ô! Agora tomo três por semana, dia sim, dia não! Puxo ferro sem nem sentir! Dá para ver o resultado, né?
- Se dá!
- Caramba, agora não consigo viver sem esse negócio...
A partir daí, desligamo-nos da conversa “instrutiva”. A cerveja tinha acabado, e a fome apertou. Foi o sinal para irmos para o restaurante.
Durante o almoço, fiquei pensando não na conversa, mas no fato em si.
Nossa sociedade tem dado cada vez mais ênfase à aparência, em detrimento do que temos na massa encefálica. São legiões de pessoas, desde jovens a idosos, agindo como se isso fosse uma verdadeira religião. Um culto aos corpos sarados, bronzeados e torneados.
E um efeito disso pode ser visto no planalto central. As academias devem ser um excelente negócio por aqui, pois vivem cheias. Perto de casa, num raio de um quilômetro, mais ou menos, já contamos umas quatro.
É elogiável que se queira uma melhor qualidade de vida, mais saúde, mais tônus muscular, mais força e vitalidade.
Entretanto, muita gente passa a praticar tanto que isso se torna um verdadeiro vício. Não conseguem ficar mais do que dois dias sem “puxar um ferro”. Acho que devem sentir algo próximo à tal crise de abstinência.
E isso se torna ainda pior quando o vício físico se alimenta do vício químico, como no caso acima.
Outro aspecto desse fenômeno social é que já tenho visto pessoas acima de 60 anos totalmente “marombadas”. Pelas costas, vemos um homem ou uma mulher com corpos admitidos como bonitos. Já vi gente na rua “quebrando o pescoço” para olhar mulheres “desejáveis”, e depois de alguns segundos se aperceberem da realidade, ao verem o rosto de tais mulheres. Imagino o que se passou na mente do galanteador de plantão:
- Uau! Que beleza, hein? Vou chegar junto da gatinha...
Ao chegar mais perto, em frações de segundo, a decepção estampada no rosto:
- Ahn? Como? Mas... mas... Bem, deixa prá lá!
Braços e pernas musculosos, encimados por um rosto totalmente incompatível com a realidade corporal. Nada contra, mas também nada a favor.
Envelhecer com dignidade é uma arte, que poucos dominam.

Um comentário:

  1. E isso porque você não sentou debaixo de um pé de abacaxi ou de melancia... :)
    abraço!
    Mônica

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