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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Glub, Glub

Janeiro, mês de verão, muito sol, temperaturas elevadas, clube, piscina, muitas partidas de tênis, uma cervejinha gelada, ar condicionado ou ventilador a mil, roupas leves. Muito bom, não é?
Sim, seria tudo verdadeiro e muito bom se aqui no planalto central não estivéssemos sob chuvas diárias e prolongadas.
Praticamente não demos as caras no clube, estamos usando calça de abrigo e moleton dentro de casa, e dormindo de edredon todas as noites.
Guarda-chuva é item de primeira necessidade. Faz parte do kit de sobrevivência.
Sol é artigo de luxo. Sabemos que ele está lá, reinando sobre as nuvens pesadas e perenes, pois se trata de verdade natural e incontestável. Entretanto, não o vemos há dias.
O Metrô continua em greve, sem perspectiva de volta às operações normais. Parece-me que os trens não operam tão cheios, a não ser nos horários de pico, prejudicando quem mais precisa deles.
Já os ônibus enfrentam um efeito tostines: estão caindo aos pedaços por que caem nos buracos, ou caem nos buracos por que estão aos pedaços?
De qualquer maneira, muitos deixam de usar o transporte coletivo e tiram seus carros da garagem, entupindo as ruas e aumentando os congestionamentos. Que sob a chuva ficam ainda mais chatos.
O asfalto das vias do DF está em pandarecos, como dizia minha avó. Os buracos se multiplicam como bactérias, ameaçando os pobres e incautos condutores. Notícias de pneus rasgados e rodas arrebentadas já não são mais manchetes. Assim como as desculpas das autoridades, especialistas em culpar a natureza, o Criador e os governos anteriores.
Pela TV vemos as notícias cada vez mais impactantes de rios transbordando, encostas ameaçadas, quedas de barreiras, estradas destruídas, plantações devastadas, vidas perdidas... Um começo de ano bastante triste e problemático para muitos.
Por enquanto, a chuva deu uma trégua. Mas, antes de anoitecer, vi que nuvens extremamente ameaçadoras estavam no horizonte. Esta noite promete...

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Chuvas

Cheguei ao planalto central no auge da seca. E falei sobre ela aqui no blog. São tempos difíceis para quem não está acostumado.
Passada essa fase, entramos no período das chuvas. E como chove por aqui...
Praticamente todos os dias ela dá o ar de sua graça.
Às vezes chega de mansinho, sem alarde. Mas, às vezes, anuncia já de longe que "está no pedaço".
Esta foto eu tirei há alguns dias, da janela da cozinha. É fácil perceber o que estava por vir...

Cidade de constrastes, em que rezamos duas vezes: uma para que chova, e outra para que pare de chover...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Perrengues pluviais

Sábado à tarde, depois de sairmos do clube, passamos no mercado. Durante as compras, percebemos a diminuição da claridade, e ouvimos a chuva batendo forte no teto. Na saída, a chuva parecia querer diminuir.
Fiquei obviamente aliviado. Fizemos o retorno próximo ao shopping e pegamos o caminho de volta para casa. Ao entrar na EPGU, de repente, o mundo veio abaixo. A chuva passou de leve a torrencial, com a visibilidade abaixo de 10 metros. Ainda era dia, mas parecia que o crepúsculo havia se adiantado...
A velocidade foi reduzida, mas não havia onde parar. Segui em frente.
- Caramba, que chuva, hein?
Minha esposa estava bastante assustada, e apenas balbuciou, concordando.
Mais alguns metros e um barulho chamou-me a atenção: granizo! Pequenas pedras de gelo por todos os lados. Gelei, tal qual as pedras, pois simplesmente continuava sem lugar para que pudéssemos nos proteger. Felizmente foi rápido, e assim como surgiram, sumiram.
Chegamos em casa sob chuva forte, e tivemos que deixar as compras no carro. Somente depois de 40 minutos consegui descarregar tudo. Logo depois, ao olhar o céu, o sol se fez presente, e parecia não ter havido nada. Que bom! O susto ficou para trás.
Ao anoitecer, lá veio o convite:
- Vamos passear naquele shopping que ainda não conhecemos?
- OK! O céu está bastante carregado, mas acho que conseguiremos voltar antes da chuva, se é que vai chover de novo! - respondi com um sorriso.
E lá fomos nós, felizes, ouvindo o bom e velho rock'n'roll.
Como não havia vagas no estacionamento público, entramos no pago, coberto, e fomos "bater perna".
Passeio feito, chegou a hora de voltar para casa. Paguei o tíquete, e fomos para a garagem. Notei que alguns carros entravam molhados. Comentei, rindo:
- É, a chuva não esperou...
Ao sair, percebi que a enxurrada estava grande, e a chuva continuava a cair com certa intensidade.
- Bem, já que estamos aqui, vou pela W3, apesar dos semáforos. Não deve ter muito movimento.
Realmente, quase não havia movimento. O que havia era muita água acumulada, em vários pontos, ao longo de toda a Asa Sul. E a enxurrada vinha de todos os lados, complicando ainda mais o trânsito.
O medo da tarde voltou com força, quando cheguei próximo do Pão de Açúcar do final da W3, e vi os carros à minha frente atravessarem um verdadeiro rio.
A água chegava ao meio das rodas.
Pensei em pegar a pista de volta e cortar pelo meio da quadra, indo para o Eixão. Mas, ao olhar para a tal pista, desisti... Estava ainda mais cheia, por ser mais baixa.
Lá na frente, o nível da água continuava a subir, mas os carros estavam passando.
- Vou arriscar, não podemos ficar aqui parados.
Engatei a primeira, acelerei e segui, mas o receio era de que as coisas poderiam ficar piores a qualquer momento. A chuva continuava, inclemente.
Encostei o carro no canteiro central, onde a pista era um pouco mais alta, e cheguei ao sinal. Vários carros parados, aguardando nervosamente o sinal verde. A tensão aumentava, assim como o nível da água...
Finalmente, a tão esperada luz verde surgiu. Todos saíram tão rápido quanto possível, e respirei aliviado. Estávamos voltando para casa.
Aumentei o volume da música e já respirava mais tranquilamente, quando percebi vários pontos alagados na EPTG...
Todos reduziram a velocidade, e as cortinas de água subiam conforme os carros passavam.
- Pô, de novo? Não basta o que passamos à tarde?
Pensei: isso tudo aqui foi construído recentemente! Será que ninguém pensou na drenagem da pista? Para que um acidente ocorra, não precisa muito...
Finalmente a entrada para o Guará surgiu à minha frente. Relaxei minhas mãos no volante. Nossa casa estava próxima.
Fui dormir com os ombros ainda tensos. Ninguém merece dois perrengues pluviais no mesmo dia.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Vento, ventania

Manhã de sol, com poucas nuvens. Parecia que o frio estava se afastando, apesar da brisa suave.
Na TV, a mocinha do tempo falou que havia grandes possibilidades de chuvas fortes. Hã? Como assim? Com ESSE tempo ali fora? Rá!
E lá fui eu para o serviço, sem o guarda-chuva, claro.
Ao longo da manhã, a velocidade do vento simplesmente atingiu níveis estratosféricos, com folhas e galhos para todos os lados. A poeira vermelha tomou conta do céu.
Nuvens de um cinza ameaçador vieram sabe-se lá de onde, e o cheiro de terra molhada começou a se fazer presente, vindo de longe.
E não é que aquela tal previsão começou a fazer sentido? Parecia que meu tênis iria ficar para outro dia.
E o vento continuava ali, implacável, açoitando as janelas.
De repente, vejo o que parecia improvável há algumas horas: a chuva havia chegado com força. Apagou a poeira, e fez cair novamente a temperatura.
No final da tarde o vento, finalmente, parou por completo, deixando seu rastro de folhas caídas por toda a cidade.
O tênis? Bem, certamente fica para outro dia.
Na volta para casa, vi que meus vizinhos de bairro já começavam a limpeza das calçadas. Eu já sabia o que me esperava, ali perto.
Talvez esta tenha sido uma das últimas chuvas antes do inverno.
Mas tudo tem o lado bom. Parece que bons ventos realmente sopraram, clareando o horizonte.
Huuummm, algo me cheira enigmático nesta última frase...

domingo, 5 de junho de 2011

Dia mundial do meio ambiente

No ano passado, postei sobre este mesmo tema, o Dia Mundial do Meio Ambiente, "comemorado" em 5 de junho.
Após ler o texto, reitero tudo o que disse, apenas trocando a catástrofe do Golfo do México pelo problema dos reatores da usina de Fukushima. Aqui no Brasil, a tragédia da região serrana do Rio continua lá, sem solução, e com muitas outras semelhantes apenas esperando para acontecer. O verão está logo ali, e quem viver, verá.
E o maior evento "comemorativo" da efeméride foi a concessão da licença de instalação da usina de Belo Monte.
Sim, o Brasil precisa de energia para o seu desenvolvimento. Talvez não precise de uma usina que não vai gerar, durante todo o ano, os mais de 11 mil MW projetados, mas tão somente uma média de 4,5 mil MW, e que vai custar aos nossos bolsos mais de R$ 30 bilhões (se bem que o valor, em si, pode variar, mas não será muito diferente disso), sem contar as linhas de transmissão.
Talvez também não precise de mais usinas nucleares, e certamente não precisa de gestores incompetentes na área de energia e meio ambiente.
Certamente não precisamos de mais megalópoles, de mais poluição, de mais carros particulares nas ruas, de mais população carente e sem educação, de mais bairros sem saneamento básico, de simples programas de bolsa-isso ou bolsa-aquilo.
Precisamos de muitas coisas: mais educação, menos impostos, mais segurança, mais saneamento básico, mais infraestrutura, menos políticos profissionais, mais vergonha na cara.
Precisamos, mais do que nunca, refletir se nosso modo de vida atual poderá se perpetuar, sem nos destruir aos poucos.
Precisamos ter motivos para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente. Eu, hoje, não tenho tais motivos.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Retorno ao lar, uma constatação, ou onde há fumaça...

Aproximamo-nos do inverno, estação obviamente mais fria e também mais seca nesta região tropical.
Já começamos a ver os reflexos disso na paisagem: chuvas bastante escassas, folhas pelo chão, e paisagens cada vez mais em tons de marrom, substituindo o verde característico dos meses mais chuvosos.
A recente viagem de volta para casa rendeu, além da reflexão do post anterior, uma constatação: observando a paisagem, vi a ocorrência de várias queimadas em pastos e matas, tanto durante o dia (várias colunas de fumaça), quanto à noite (a luminosidade propriamente dita do fogo).
Essa combinação de tempo seco e de queimadas piora a qualidade do ar, tornando mais difícil a vida de quem tem problemas respiratórios, além de tornar as paisagens e os horizontes muito mais embaçados.
No ano passado, escrevi alguns posts a respeito disso em agosto e setembro, começando por este aqui.
Provavelmente teremos por aqui um vale a pena ver de novo... E começando bem mais cedo do que eu esperava.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Dia da água

Ontem, 22 de março, foi comemorado o Dia Mundial da Água.
Como sempre, tivemos as tradicionais reportagens exaltando a posição privilegiada do Brasil com relação à disponibilidade deste importante recurso natural.
Ufanismo à parte, temos pouco a comemorar.
Ainda temos pouco acesso à água tratada, e muito menos acesso à coleta e tratamento de esgoto.
Muitos rios importantes sofrem com a poluição despejada por cidades e indústrias. E isso não é exclusividade dos grandes rios.
Lixo de todo tipo é encontrado às margens dos cursos d'água.
Doenças de veículação hídrica ainda são causa de mortes, tanto de adultos, quanto de crianças.
Entre os que militam na área, é praticamente consenso: a cada R$ 1,00 aplicado em saneamento, economizam-se R$ 4,00 em saúde pública.
Margens desmatadas e assoreamento são espantosamente comuns.
Há descaso por parte das autoridades e da população.
O desperdício ainda faz parte da nossa cultura.
Ainda se passarão muitos verões até que tomemos consciência de que a água é um bem importante e escasso. Só então poderemos comemorar essa data como se deve.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Condomínio animal

Esta eu vi num rancho, sob o beiral da varanda.
O dono colocou lá a casinha, digamos, pré-fabricada, para que algum pássaro fizesse seu ninho.
Entretanto, algum tempo depois, apareceu a outra.
Fico me perguntando: será que há uma crise habitacional no mundo animal?
Ou seria apenas o desejo de ter uma boa vizinhança?
O único problema é o choro das crianças de baixo incomodar as crianças de cima, ou vice-versa... Aí, ninguém dorme, e quem sofre no dia seguinte são os pais, que têm que sair para "trabalhar" sem dormir.
Alguma semelhança com certa espécie bem conhecida?

Abraço apertado

De longe pode parecer que está tudo normal, ou seja, seria apenas mais uma árvore.



Mas, olhando de perto, dá para ver: são duas, e uma abraçou fortemente o tronco da outra. E há um bom tempo, pelo tamanho de ambas.



Apesar disso, as duas parecem bem saudáveis.
E a imagem é bem interessante.
Outro título bem que poderia ser: daqui não saio, daqui ninguém me tira.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A segunda florada dos ipês - 2

Mais uma viagem, dessa vez impregnada de sensações de viagens há muito realizadas.
Não sei dizer bem o que foi, mas acordei assim, com várias recordações. Enfim, um sensação gostosa.
E, pelas estradas, como não poderia deixar de ser, acabamos nos deparando com paisagens que merecem destaque.
Depois das chuvas da última semana, o verde começou a retornar, e no meio das muitas árvores, ele se destacou. Por isso, mereceu alguns cliques.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Cena urbana normal - 4

Esta é uma cena urbana natural, sem resquícios da estupidez humana.
Mais uma daquelas tardes quentes de final de inverno. Brisa apenas suficiente para mover as folhas.
Céu completamente cinza, mas sem nuvens, resultado das muitas queimadas e da ausência de chuva. O tempo seco permanecia implacável.
Da minha janela do escritório, noto um movimento diferente. Começo a procurar na árvore mais próxima, mas não vejo nada.
Depois de alguns instantes, lá está ele. Um pica-pau, fazendo aquilo que lhe dá o nome. Está preparando o ninho. Vejo-o saindo do buraco. É um pica-pau carijó (Colaptes melanochloros).
Caço a máquina fotográfica mais próxima, saio e chego mais perto. Consigo fazer algumas fotos com o zoom, mas saem tremidas.
Bem devagar, vou me aproximando. Ele fica imóvel, mas atento.

Quando me vê alguns centímetros mais perto, começa a subir pelo galho, e faz a pose para a foto.

Vantagens de se trabalhar cercado por árvores, certo? Sou um felizardo.
A natureza segue seu curso, apesar de nós, e não por nossa causa, e apesar de uns e outros acharem que o centro do universo está mais próximo de seus umbigos.
Você tem dúvidas de que a Terra sobreviveria sem a nossa espécie?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tempo seco 5

Calor sufocante, umidade relativa do ar abaixo de qualquer crítica, e água só nas torneiras (quer dizer, às vezes, nem isso, pois a pressão da água varia tanto ao longo do dia que escorrer seria a expressão mais adequada).
Viajando por estradas em que as queimadas são quase onipresentes, as paisagens não são muito diferentes desta:



Você pensa que o tempo está nublado?
Engano seu. No horizonte, apenas uma mistura de fumaça e poeira. Os pastos estão tão secos que o capim quase se esfarela ao toque. O gado está com as costelas à mostra.

E, ao chegar à minha cidade, deparei-me com esta cena. Só uma palavra: deprimente.



Quando será que a chuva nos dará o ar de sua graça? E, quando chegar, virá com aquela fúria represada, em um ataque repentino e cruel?
Começo a ficar preocupado...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A segunda florada dos ipês

Mais uma série de viagens, tendo como companhia o asfalto e a palidez irritante do céu que vai voltar a ser azul.
Nesses caminhos, certas paisagens merecem uma parada e alguns cliques.
É uma segunda florada dos ipês amarelos. Eles estão por toda parte, nos campos e nas cidades.
Em alguns casos, aparecem acompanhados de uns poucos e ainda tímidos ipês brancos.
Pena que a florada destes seja tão breve. Muitas vezes não temos a chance de captá-los como deveriam.
Mas algumas imagens dos amarelos alegram nossas vidas.







E para fechar com chave de ouro (aliás, uma cor bem pertinente neste caso), uma crônica de Rubem Alves, que você pode ler no original aqui. Um primor irretocável.

Os ipês estão floridos

Thoureau, que amava muito a natureza, escreveu que se um homem resolver viver nas matas para gozar o mistério da vida selvagem será considerado pessoa estranha ou talvez louca. Se, ao contrário, se puser a cortar as árvores para transformá-las em dinheiro (muito embora vá deixando a desolação por onde passe), será tido como homem trabalhador e responsável. Lembro-me disso todas as manhãs, pois na minha caminhada para o trabalho passo por um ipê rosa florido. A beleza é tão grande que fico ali parado, olhando sua copa contra o céu azul. E imagino que os outros, encerrados em suas pequenas bolhas metálicas rodantes, em busca de um destino, devem imaginar que não funciono bem.

Gosto dos ipês de forma especial. Questão de afinidade. Alegram-se em fazer as coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é normal - abrem-se para o amor na primavera, quando o clima é ameno e o verão está prá chegar, com seu calor e chuvas. O ipê faz amor justo quando o inverno chega, e a sua copa florida é uma despudorada e triunfante exaltação do cio.

Conheci os ipês na minha infância, em Minas, os pastos queimados pela geada, a poeira subindo das estradas secas e, no meio dos campos, os ipês solitários, colorindo o inverno de alegria. O tempo era diferente, moroso como as vacas que voltam em fim de tarde. As coisas andavam ao ritmo da própria vida, nos seus giros naturais. Mas agora, de repente, esta árvore de outros espaços irrompe no meio do asfalto, interrompe o tempo urbano de semáforos, buzinas e ultrapassagens, e eu tenho de parar ante esta aparição do outro mundo. Como aconteceu com Moisés, que pastoreava os rebanhos do sogro, e viu um arbusto pegando fogo, sem se consumir. Ao se aproximar para ver melhor, ouviu uma voz que dizia: “Tira as sandálias dos teus pés, pois a terra em que pisas é santa”. Acho que não foi sarça ardente. Deve ter sido um ipê florido. De fato, algo arde, sem queimar, não na árvore, mas na alma. E concluo que o escritor sagrado estava certo. Também eu acho sacrilégio chegar perto e pisar as milhares de flores caídas, tão lindas, agonizantes, tendo já cumprido sua vocação de amor.

Mas sei que o espaço urbano pensa diferente. O que é milagre para alguns é canseira para a vassoura de outros. Melhor o cimento limpo que a copa colorida. Lembro-me de um pé de ipê, indefeso, com sua casca cortada a toda volta. Meses depois, estava morto, seco. Mas não importa. O ritual de amor no inverno espalhará sementes pela terra e a vida triunfará sobre a morte, o verde arrebentará o asfalto. A despeito de toda a nossa loucura, os ipês continuam fiéis à sua vocação de beleza, e nos esperarão tranqüilos. Ainda haverá de vir um tempo em que os homens e a natureza conviverão em harmonia.

Agora são os ipês rosa. Depois virão os amarelos. Por fim, os brancos.

Cada um dizendo uma coisa diferente. Três partes de uma brincadeira musical, que certamente teria sido composta por Vivaldi ou Mozart, se tivessem vivido aqui.

Primeiro movimento, “Ipê Rosa”, andante tranqüilo, como o coral de Bach que descreve as ovelhas pastando. Ouve-se o som rural do órgão.

Segundo movimento, “Ipê Amarelo”, rondo vivace, em que os metais, cores parecidas com as do ipê, fazem soar a exuberância da vida.

Terceiro movimento, “Ipê Branco”, moderato, em que os violoncelos falam de paz e esperança. Penso que os ipês são uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom se pudéssemos nos abrir para o amor no inverno...

Corra o risco de ser considerado louco: vá visitar os ipês. E diga-lhes que eles tornam o seu mundo mais belo. Eles nem o ouvirão e não responderão. Estão muito ocupados com o tempo de amar, que é tão curto. Quem sabe acontecerá com você o que aconteceu com Moisés, e sentirá que ali resplandece a glória divina... (Tempus Fugit, pág. 12).

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tempo seco 4

Sábado, final da tarde, e noto algo que traz alguma esperança: há nuvens no céu, depois de muitos dias de céu limpo.
Ao anoitecer, o céu está totalmente nublado, e outra presença se faz notar: o vento mais forte, em rajadas. Aquela frente fria está lá longe, no litoral.
São condições que, somadas, já foram prenúncios de “virada” no tempo.
Pensei que, finalmente, a tão esperada chuva viria para nos presentear com aquele gostoso cheiro de terra molhada.
Vou dormir mais contente, mas ao mesmo tempo mais preocupado. No domingo, logo cedo, o pintor virá para terminar alguns recortes e passar o grafite no quintal e na calçada. Mas isso só será feito se tudo estiver seco...
Sentimentos conflitantes: uma parte quer matar a saudade da chuva, e outra parte quer ver o serviço terminado.
Amanhece e constato que a chuva não veio, e o céu está mais limpo do que nunca.
O pintor veio, mas um de seus pincéis sumiu. Inadvertidamente, deve ter ido para o lixo. Ele disse que iria buscar outro em sua casa e voltaria em seguida.
Ele apareceu por aí? Não? Então, nem por aqui.
Continuo esperando. O pintor e a chuva.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tempo seco 3

Céu azul pálido e nuvens altas, simples fiapos de algodão.
Água, só nas torneiras.
Os olhos avermelhados, ressecados, vasculham o céu à procura de nuvens robustas, cinzentas, carregadas, que possam ao menos prenunciar um leve aumento na umidade relativa do ar. Umidade relativa do ar? O nome já diz tudo: é relativa.
No jornal, a notícia: uma frente fria deve passar ao longo do litoral.
- Ops, o que é aquilo no horizonte? Minhas preces foram atendidas? Seria uma chuvinha para limpar o ar sujo e lavar nossa alma?
Que nada! É apenas mais uma enorme coluna de fumaça, resultado de outra queimada em algum pasto.
A esperança leva mais uma chamuscada, mas ainda sobrevive. Afinal, ela é a última que morre, certo?
Mais alguns dias, quem sabe?

domingo, 29 de agosto de 2010

Tempo seco 2

Acabei de ler na Folha:

29/08/2010 - 19h52
Umidade chega a 6% em Presidente Prudente, dez vezes menos que o ideal

Leia a íntegra aqui.

Um dos parágrafos da repostagem:
Em Presidente Prudente (542 km de São Paulo), a umidade relativa do ar chegou a 6% hoje, segundo o Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos). Para a Organização Mundial da Saúde, o índice abaixo de 12% caracteriza situação de emergência. Para ser considerado adequado para a saúde, o ar precisa ter no mínimo 60% de umidade.

Inverno com temperaturas de verão, umidade relativa do ar típica de deserto, queimadas descontroladas, fumaça e poeira, índices de UV elevados. Onde vamos parar?
Faz quase uma semana que nosso umidificador trabalha sem descanso, para que possamos respirar um pouco melhor dentro de casa. Já na rua...

Tempo seco 1

Nestes dias de mudanças climáticas, é louvável o plantio de mudas de árvores nas ruas, apesar de o poder público e a população terem condições de fazer um pouco mais a respeito.
Vejo quarteirões inteiros sem uma única árvore, castigados pelo sol inclemente de nosso país tropical, independente de estação do ano.
Em algumas ruas, encontro poucos exemplares recentemente plantados. Seria uma atitude elogiosa, se não fossem tempos de aridez quase desértica, neste inverno esquisitamente tórrido.
As mudas são plantadas e lá ficam, sob o sol, perdendo gradativamente sua exuberância, sem uma gota de água salvadora, negada pelos governantes, por seus subordinados e também pelos moradores próximos. Ninguém se digna a atravessar a rua com uma caneca e regar a pobre planta. Apesar de tímida, esta atitude pode ajudar a melhorar a condição de vida nas cidades médias e grandes, por exemplo, reduzindo a temperatura média e aumentando a umidade relativa do ar.
Poucas são as pessoas que dizem querer uma árvore em frente à sua casa, e as desculpas são várias. Entre elas, o trabalho que teriam em varrer as folhas e flores que caem, supostamente “sujando” a rua.
Entretanto, são estas mesmas pessoas que reclamam quando têm de caminhar pelas ruas sem ter uma sombra sequer para descansar, ao longo do percurso. Também reclamam quando estacionam seus carros sob o sol, transformando-os em verdadeiros "autos-fornos".
É o nosso descaso que transforma a futura árvore frondosa, com sua sombra refrescante, em um pequeno pau ressequido e imprestável.

Um tigre na bolsa

No Estadão:

Veja a íntegra aqui.

Filhote de tigre é encontrado em bagagem em aeroporto na Tailândia
Animal, sedado, estava dentro de bolsa com bichos de pelúcia que mulher pretendia levar em voo para o Irã.
27 de agosto de 2010 | 5h 51


Não sei quem é mais animal: se o pobre filhote, ou essa porcaria que se auto-intitula ser humano, nascido com sexo feminino, e que supostamente seria "inteligente", mas não passa de um mero exemplar de estupidez. E essa coisa aí embarcaria para aquele país muito democrático, que não tem pretensões de ser uma potência nuclear, cujo presidente nega o holocausto e que é bastante amigo de presidentes de republiquetas de bananas, o Irã.
Há necessidade de um controle rigoroso por parte das "autoridades" para que o tráfico de animais silvestres seja eliminado.
Parece óbvio, mas não custa reforçar: cada um no seu habitat. Ou, em frase "lapidar", lançada recentemente no "meio musical", "cada um no seu quadrado".

Lugar de tigre é na selva, não dentro de bolsas.
Lugar de passarinho é na natureza, não na gaiola.
Lugar de louco é no hospício, não nas ruas.